Eu adoro quando as ordens das coisas mudam, quando as verdades trocam de lugar e quando a gente tem só a opção de duvidar de tudo. E de todos. Porque só assim a gente continua andando, só assim a gente continua pensando, agindo, achando novas verdades para, logo depois, transformá-las em versões ultrapassadas.
E grande Julia indicou esse documentário. Porque la revelacion es la grand revolucion.
Porque nada é mais legal do que andar. E porque chegar lá não tem relação nenhuma (ou pouca, muito pouca relação) com o lugar da chegada, mas com o ir em si. E o filme é lindo. Lindo porque te toca daquele jeito quente que queima e arde por dentro, daquele jeito doido que te faz querer andar, sem rumo mas com direção.
E eu queria ser Sal para mim. E queria ser Dean para outros Sals.
Em 2000 fechei o século emergindo numa seara que eu não tinha muita ideia da onde estava me metendo. Fui para São Raimundo Nonato ver desenhos rupestres e na minha cabeça de anos 2000 fui também esmiuçar um centro de Brasil que mal passa na televisão. Doze anos se passaram e vi que hoje sou fruto dessa viagem que durou 10 dias mas que perdura em mim cotidianamente seja quando reflito sobre o tempo, quando dou valor real e irrestrito ao desenho e quando sinto que o miolo do interior percorre completamente em mim ora em textos que escrevo, ora em como me porto, ora em como dou aula, ora em como amo saber que fui pra la. E com quem fui e como fui.
E depois de doze anos Vera indica um filme e eu fui assisti-lo com a Mirtes porque não existe nenhum sentido eu não ouvir Vera e não fazer com Mirtes.
Intenso, denso, teatral, pesado. Passei pelo choque, pelo riso, pelo conforto, pelo estranhamento tudo isso no mesmo espaço escuro da mesma sala de cinema que frequentemente vou. Quis sair dançando naquela noite de lá e hoje quero conquistar o mundo, quero dançar a dança estranha que rabisca o chão numa terra sem fim e sem tamanho mexendo os braços fazendo-os desenhar o ar. Quero desenhar como Pina dançava. E quero esse filme sempre ecoando dentro de mim para isso.
“Dance, dance … Caso contrário estamos perdidos.” Pina