Concurso para a Prefeitura de Várzea Paulista, projeto idealizado em parceria com os incríveis Diego Almeida e Paula Bianchi, ano 2012.
Arquitetura é cidade, é idade, sociedade. Mais do que volume, fachadas, cortes, tecnologia, ou mesmo espaço é componente ativo, participativo.
Cidade é arquitetura em movimento, lugar onde move-se o vento, bem lento, ao som da música do cotidiano carregado de muitas batalhas e algumas conquistas.
Construir cidade, uma cidade que seja crível converte-se cada vez mais em algo difícil. Às vezes a que se percorrer um longo caminho, quase jornada. E no meio desse percurso, dessa (ou de qualquer outra) cidade, descobre-se a chave de um mundo complexo. Descobre-se a fascinação e o encantamento da mistura de ciências, humanidades e religião, escultura e pintura, bênçãos e crendices, beleza e feiúra. Descobre-se que o que parecia feio num primeiro olhar tem uma beleza pura. Pura e simples beleza. Descobre-se também a beleza de querer fazer uma cidade.
Nossa cidade projetada aqui nasce como símbolo de um território maior, nasce como ágora, como espaço da formação de assembléias e celebração da justiça. Nasce com uma linha costurando comércio e teatro, compra e troca, passando por uma praça, uma arena por entre lâminas com luz, ora agindo como lamparina, guia e farol de respostas, ora como berço iluminado de questionamentos e possibilidades. Uma linha costurada, sem fim nem começo, pelas ações do homem no seu dia a dia, nos seus afazeres e nas suas vontades e necessidades. Do comércio nasce a passarela que adentra no poder e percorre até a entrada do teatro que receberá, em sua empena, um telão com as ações de uma prefeitura que nasce para se abrir.
Nossa cidade cria espaço para ação e reação. Tem o dever de ser urbana, assim como o dicionário mesmo nos diz: relativa à cidade, própria da cidade, figura cortes, polida. E deve ser afável, não ter porta, nem muro, nem entrada, nem grandes e imponentes fachadas. Deve ser símbolo mas não deve ser elemento fechado em si mesmo. Deve (e tem) precisas aberturas em suas lâminas capazes de transformar a visão da cidade a partir dela. E quando o lugar é o fundamento, e de fato no projeto ele é, a arquitetura torna-se transformação do que está dado. A partir disto toda a articulação de uma convocatória à cidadania se dá por uma praça e uma rua, um ponto e uma reta, um espaço de permanência e outro de circulação. Livre, leve e simples assim.
E seu grande articulador espacial realmente é a reta. Local genuinamente público. Local do caminho, da procissão, do sacrifício mas também da transformação e das trocas humanas. Local público, convidativo, desafiador, organizacional, conceitual. Afinal é na fixação de um conceito que por magia (do deus-público, talvez) a cidade se torna mais plástica, a memória assume o comando e o espaço deixa de existir. Para cada vez mais permitir. Permitir mudanças em vidas feitas pela cultura. Nada mais cultural, simbólico e eloquente do que uma cidade e suas praças e ruas. E nada mais perene do que a imagem construída do silêncio de uma rua, morada do coletivo, como aceitação e integração do destino de uma cidade.
“é estranho que de um discurso deva resultar o silêncio, no sentido de serenidade e disponibilidade – mas é assim.” Álvaro Siza.
Postado por: Antonio