Completando a frase

Eu gostaria de ser artista como Patti Smith é.

Eu gostaria de cantar como Johnny Cash cantava.

Eu gostaria de desenhar como Edward Hutchison desenha.

Eu gostaria de ler como Maria Bethânia declama suas poesias.

Eu gostaria de ser lindo como Clint Eastwood é.

Eu gostaria de ter tempo para inventar mais coisas para fazer e ver que eu não terei tempo nunca mesmo.

Eu gostaria de projetar como Lina projetava.

Eu gostaria de escrever como Chico escreve.

Eu gostaria de ser sexy como Marilyn era.

Eu gostaria de dançar como Olive dançou em Pequena Miss Sunshine mas se eu dançar como Michael Jackson também curtirei.

Eu gostaria de ter criado todas aquelas coisas genialmente simples que eu olho e penso porque eu não pensei nisso? (as ideias ridículas que qualquer-um-faria eu passo).

Eu gostaria de festas com Donna Summer tocando porque festa boa toca essa nega.

Eu gostaria de sorrir como Julia Roberts sorri.

Eu gostaria de inventar bombas com um clip e um chiclete mascado como o MacGyver inventava.

Eu gostaria de andar de bicicleta com o E.T. na cesta como Drew andou.

Eu gostaria de ser o Vagabundo beijando a Dama logo depois do melhor spaghetti com almondegas do mundo.

Eu gostaria de ser arte como Marina Abramović é.

Eu gostaria de gostar menos.

É.

E quem conhece meus gostos em frases completadas me conhece só pela metade. Porque gosto muito, mas faço um pouco mais do que gostar completando linhas pontilhadas. Porque completo linhas de um jeito torto e que muda a cada dia, mesmo eu mantendo todo mundo que gosto ali, naquele canto especial que fica na ponta dos meus dedos, com os nomes escorregando direto para a folha toda vez que completo pontos de uma linha ainda em vazio. E vejo que derramar aleatoriamente as pessoas que gosto em frases bobas que devem ser completadas faz todo sentido para mim. Porque gosto mesmo é de cantar como Olive dança, de desenhar como o Vagabundo beijou a Dama, de ler como Marilyn e seu cabelo loiro seduziam o mundo, de ser lindo como Chico escreve, de ser sexy como um inventor de bombas a base de clip e chiclete mascado, de dançar como Patti é, de criar como Johnny Cash cantava, de festejar como Edward Hutchison se diverte na frente de papel e lápis coloridos, de sorrir como Bethânia lê, de inventar a beleza que Clint Eastwood desde que nasceu tem, de andar de bicicleta como Marina se rasga com cacos de vidro, de beijar como Donna incendiava a pista, de ser artista como o E.T. numa cesta de bicicleta e de ser arte como eu gosto de gostar. Mesmo menos. Mas geralmente é mais.

É.

 

texto publicado no malvadezas.

Postado por: Antonio



Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *