Sangue, ossos & manteiga

Toda vez que termino um livro a primeira palavra que me vem à cabeça talvez seja essa mesma, terminei. Porque deixo de te-lo em páginas. Aquelas páginas que tomaram chuva, que receberam uns grifos meus, que pesaram na minha mochila por dias. Aquelas páginas brancas-amarelas com letras terminaram. Fim. Está lá, escrito fim nas páginas agora amassadas, borradas, machucadas. O livro termina em páginas mas agora estão em mim. Inteiras. Todas elas, com chuva, com risco, com peso. Todas. Em. Mim.

E foi exatamente isso o que escrevi logo em seguida do fim do livro que tinha acabado de terminar de ler. Foi no meu caderninho, dentro do ônibus com a letra trêmula da irregularidade do combo rua esburacada-ônibus capenga que eu escrevi isso. E foi ela, Gabrielle Hamilton a responsável. Ela e seu Sangue, Ossos & Manteiga. Ela escreveu sobre sua vida, seus sabores e eu fui devorando cada palavra, cada coisa linda que li ali, naquelas páginas. Eu costumo fazer de grandes mulheres que sabem contar suas histórias minhas musas e ela entrou para a lista. Porque ela cita Jo Carson (“cuidado com o que você aprende a fazer bem, porque é o que vai fazer pelo resto da vida”) e escreve petardos maravilhosos como esse: “gosto de sentir a rotina me ancorando, não me algemando. O que adoro nos italianos é exatamente o que eu também não gosto: a incrível fixação da rotina, da tradição, a conservação quase patológica do hábito (…). Foi assim que países mais antigos que o nosso se tornaram tão ricos em tradições. Repetição. Séculos de repetição.”

Grande garota.

Postado por: Antonio